Um dia pela defesa da igualdade de oportunidades
Entrevista com MARIA CABRAL BARBARO (CEO e fundadora da Mtrix) em defesa da igualdade de oportunidades – Blog Dia da Mulher
Já se tornou uma fala comum a frase “O lugar da mulher é onde ela quiser!” Bem, deveria ser. Para ajudar a tornar essa fala uma realidade, o dia 8 de março marca o Dia Internacional da Mulher. Esse dia tem origem nas históricas manifestações femininas por melhores condições de trabalho, remuneração justa, direito ao voto, entre outras reivindicações.
A data foi instituída oficialmente pela ONU em 1975 e hoje é comemorada em mais de 100 países, entre eles o Brasil. Mas a verdade é que, bem antes da iniciativa da ONU, o Dia da Mulher já vinha sendo celebrado em diferentes datas e em diferentes países desde o início do século XX.
Consta que a primeira celebração ocorreu em fevereiro de 1909 nos Estados Unidos. Nos anos seguintes, ocorreu em países como França, Rússia, Alemanha e Dinamarca. Assim, contando desde a origem da data, lá se vai mais de um século.
Igualdade de oportunidades ainda é uma busca
Apesar de a luta por igualdade de oportunidades ter iniciado há mais de cem anos, muitas pautas seguem incrivelmente atuais! Basta pensar que as mulheres são 51,1% da população brasileira, mas continuam largamente sub-representadas em espaços como a política e os cargos de alto escalão na maior parte das empresas.
Além das conquistas qua ainda estão longe de serem consolidadas, uma visão equivocada persiste em parte da sociedade. A visão de que a luta feminina se dá contra os homens. Ou seja, de uma sociedade na qual supostamente apenas as mulheres ocupariam a liderança.
CEO e fundadora da Mtrix, a carioca Maria Cabral Barbaro acredita que é preciso desfazer esse equívoco e reforçar o fato de que a luta por igualdade de oportunidades e de direitos é um trabalho civilizatório que visa beneficiar o conjunto da sociedade.
Afinal, o ambiente de trabalho é um excelente local para que cada um possa desenvolver talentos e potencialidades. Um ambiente onde qualificação e mérito devem prevalecer.
Pioneirismo empreendedor
A Mtrix é uma empresa de tecnologia com mais de 12 anos de mercado, idealizada por uma mulher. A empresa se estabeleceu sobre pilares como inovação, evolução tecnológica, valorização dos colaboradores e comprometimento com os resultados de seus clientes.
Maria Cabral Barbaro formou-se em economia e trabalhou inicialmente no mercado financeiro. No final da década de 1990, ingressou em uma empresa de tecnologia, onde permaneceu até a venda da companhia, em 2007.
Mas ela havia tomado gosto pela área de tecnologia e inteligência de dados e utilizou todo seu conhecimento acumulado para criar a Mtrix. Diferentemente das poucas empresas de business intelligence da época, que trabalhavam com a indústria e grandes grupos de varejo (key accounts), a Mtrix surgiu com foco no mercado atacadista e distribuidor. Esse foco se mantém até hoje.
Conheça as soluções Mtrix para Distribuidores e Atacadistas
Desde o início, Maria desempenhou variadas funções e contou com sua sólida experiência e sua capacidade de agregar ao novo projeto colaboradores de peso oriundos da antiga empresa. Isso ajudou a recém-criada Mtrix a consolidar sua credibilidade no mercado. “A equipe que consegui reunir foi fundamental”, conta.
Foi uma trajetória desafiadora por um universo que até hoje é predominantemente masculino. “Em muitas reuniões de que participei, eu era a única mulher”, lembra a CEO. Foi preciso superar o preconceito de que mulher não entende nada de tecnologia…
O que vale é a competência
A empresa dobrou de tamanho nos últimos dois anos e hoje tem um número bastante equilibrado de homens e mulheres entre os colaboradores. E isso, afirma Maria, não se deve a uma decisão deliberada de aumentar o número de vagas femininas: “O que nós procuramos é competência”, diz.
Ou seja, a empresa não barra um candidato nem o favorece pelo fato de ser homem ou mulher. “Acreditamos que essa postura é a correta, afinal não queremos perder nenhum talento por simples preconceito. Aqui, toda vez que a gente contratou, nunca houve um favoritismo por um ou outro gênero, sempre foi por mérito”, afirma Maria.
A CEO lamenta que ainda haja poucas desenvolvedoras e programadoras. Mas destaca que muitas mulheres realizam um ótimo trabalho em posições nas áreas administrativa, RH, marketing, atendimento, comercial em empresas de tecnologia.
“A presença de mulheres que trabalham com tecnologia é cada vez maior. Talvez não diretamente na área técnica, mas na liderança de áreas importantes, que têm tecnologia sob sua gestão e sabem utilizar seus recursos para ampliar resultados”, comemora. “Ultimamente temos visto também diversas startups criadas por mulheres”, completa.
A defasagem entre número de homens e mulheres na área se explica porque, ainda hoje, cursos como engenharia e tecnologia da informação costumam formar muito mais alunos do que alunas. O resultado é um mercado de trabalho majoritariamente masculino.
“Mas isso certamente vai mudar quando os nativos digitais chegarem às universidades e ao mercado de trabalho. Para esses, ser homem ou mulher não fará diferença, essa geração vem com outro mindset. Esses jovens encaram a tecnologia com muito mais naturalidade, e é cada vez mais comum meninas optarem por carreiras dessa área. E isso tende a nivelar a quantidade de profissionais formados ao longo do tempo”, opina Maria.
O futuro digital trazendo mudanças
Há quase uma década, o presidente-executivo da Microsoft, Satya Nadella, previu que toda empresa seria uma empresa de tecnologia. E isso é cada vez mais verdade! A transformação digital, acelerada pela pandemia, tornou-se vital para todo tipo de empresa.
“Seja para montar um e-commerce, para estruturar sua logística, sua área de vendas ou atendimento, a tecnologia e a inteligência de dados são cada dia mais fundamentais em qualquer negócio, não apenas para aqueles em que a tecnologia é a atividade-fim”, diz Maria.
Além disso, a forma de trabalhar a inserção no mundo digital foi transformadora.
“O home office, adotado a partir da pandemia, teve grande impacto na qualidade de vida de homens e mulheres, que antes gastavam horas no deslocamento entre sua casa e a empresa. Mas especialmente para as mulheres foi um grande ganho. Essas horas disponíveis a mais permitem, por exemplo, participar mais da vida dos filhos, levá-los para a escola, melhorar o cuidado pessoal, sem qualquer perda de produtividade”, destaca a CEO.
A questão de gênero não deveria ser uma questão
“Como mulher, meu maior sonho é chegar no dia em que essa questão de gênero não seja mais uma questão. Algo que não seja nem falado, nem sequer lembrado, uma vez que a igualdade de oportunidades passou a ser a regra. Mas hoje ainda é preciso falar disso, sim”, pondera a CEO da Mtrix. “Ainda temos empresas que não contratam mulheres para determinados cargos, pagam salários desiguais.”
Mas Maria também vê uma conscientização, uma mudança de mentalidade que vem aos poucos, que também atinge os homens, trazendo mais equilíbrio para a relação entre os gêneros. “Por exemplo, hoje os homens são mais presentes e engajados nas tarefas relativas à casa e aos filhos. E várias empresas já se preocupam com questões como a licença paternidade”, lembra.
Porém, enquanto essa nova realidade não se consolida, Maria diz que as mulheres precisam se armar de coragem para enfrentar os preconceitos. “Um ambiente machista sempre vai esperar menos da mulher. Então, a minha expectativa é que a mulher seja extremamente capacitada e profissional, que saiba se posicionar, não se deixe intimidar nem desvalorizar, mesmo sabendo que poderá enfrentar ambientes hostis”, diz.
Em outras palavras, a mulher seguirá conquistando novos espaços e novas posições pela postura e pelo mérito, pavimentando o caminho para que as oportunidades sejam um dia, de fato, iguais.
Este dia é para ser comemorado, já que a igualdade de oportunidades traz diversidade. E a diversidade no ambiente de trabalho – seja em termos de gênero, origem, nacionalidade, faixa etária, etnia ou qualquer outra característica – enriquece as possibilidades de inovação e solução de problemas com diferentes visões e experiências de vida e é essencial para a construção de uma empresa mais criativa, adaptável, resiliente e bem-sucedida.