Desempenho do varejo alimentar: 5 fatores decisivos para o sucesso

O abastecimento do varejo alimentar é sempre um desafio comercial e logístico que demanda uma profunda integração da cadeia de suprimentos e que depende, para sua eficácia, de diversos fatores que vão de questões operacionais e logísticas ao planejamento bem feito das estratégias comerciais e de marketing, passando pela boa comunicação e pelo uso eficiente das ferramentas de business intelligence.
Neste artigo, damos especial atenção ao pequeno e médio varejo independente, que em muitas regiões do país ainda são os principais canais de abastecimento das famílias. Em muitas localidades, esses estabelecimentos ainda não sofrem concorrência tão direta das lojas de vizinhança das grandes redes. Em regiões mais povoadas, no entanto, essa concorrência existe e é acirrada.
Seja qual for o caso, a evolução em termos de uso de ferramentas digitais, boa gestão do estoque e conhecimento de conceitos essenciais de marketing e planejamento são requisitos mínimos para a sobrevivência desses canais tão fundamentais na realidade econômica brasileira.
Embora muitos aspectos influenciem o sucesso do setor, este artigo destaca cinco fatores essenciais que impactam diretamente o desempenho do varejo alimentar: previsibilidade da demanda, eficiência logística, relacionamento com fornecedores, sustentabilidade e apropriação da tecnologia.
Vale também destacar o papel da indústria e distribuidores em promover a evolução do varejo de vizinhança e otimizar esses pontos, fortalecendo a cadeia de suprimentos e beneficiando o consumidor final. A seguir, exploramos esses cinco fatores com mais profundidade.
Aspectos ligados ao desempenho do varejo alimentar
Para os varejistas, reconhecer rapidamente as mudanças nas condições do mercado e ajustar suas operações é essencial para garantir o bom desempenho do varejo alimentar. Esse movimento de adaptação e os resultados positivos dessa mudança podem ser alcançados de várias maneiras, mas é relevante notar que, apesar de termos destacado a ampla adoção de tecnologia como um dos itens desse processo, ela perpassa todos os demais tópicos, uma vez que qualquer atividade econômica, hoje, está fortemente apoiada em recursos digitais.
1. Previsibilidade da demanda
Fatores sazonais, novas tendências de consumo e eventos inesperados podem causar flutuações significativas na demanda. Isso afeta diretamente o nível de estoque e, consequentemente, o abastecimento.
Soluções práticas
- Ferramentas de análise preditiva: Utilizar plataformas de inteligência de mercado que empregam análise de big data para prever padrões de demanda com precisão. Tecnologias como IA e aprendizado de máquina podem ajudar nesse aspecto.
- Tecnologia de merchandising adaptável: Incorporar sistemas de merchandising que ajustem rapidamente as ofertas de estoque conforme previsto pela análise de mercado.
2. Eficiência logística
Nas questões ligadas à gestão de transporte e armazenagem, a falta de infraestrutura adequada pode acarretar atrasos e impactar os custos da cadeia de suprimentos.
Soluções práticas
- Monitoramento constante: Integrar técnicas de gestão ágeis que permitam insights precisos e rápidos ajustes. Isso vale tanto para a movimentação da loja como para os níveis de estoque, já que ambos estão intimamente relacionados e fornecem as informações necessárias para práticas de abastecimento e marketing. A gestão ágil de ambos facilita um ciclo curto entre feedback do consumidor e resposta adequada no tempo correto.
- Interfaces de usuário ampliadas: Tecnologias como Realidade Aumentada (RA) podem ser aplicadas para melhorar as operações de inventário dentro de armazéns, facilitando uma seleção e armazenamento mais eficiente.
3. Relacionamento com fornecedores
Coordenação, agilidade e transparência no repasse de informações relevantes são essenciais, já que a falta de comunicação e alinhamento com fornecedores podem levar a interrupções na cadeia de suprimentos.
Soluções práticas
- Plataformas colaborativas: Uso de soluções colaborativas baseadas em nuvem que aumentam a transparência das operações e promovem melhor coordenação.
- Reuniões regulares de ajuste: Estabelecer estruturas para encontros regulares com fornecedores discutindo previsões e ajustes necessários.
4. Sustentabilidade
Hoje, o crivo do consumidor se ocupa cada vez mais de temas ambientais, o que atinge não apenas os fabricantes, mas também os demais elos da cadeia de abastecimento. Essa preocupação com práticas sustentáveis influencia diretamente o desempenho do varejo alimentar, tornando essencial passar ao mercado a mensagem de que a empresa assume um compromisso com a sustentabilidade e atua proativamente para diminuir um eventual impacto ambiental negativo em sua atividade. Além disso, há a questão do desperdício, que não apenas é ambientalmente nocivo, mas também causa prejuízo financeiro.
Soluções práticas
- Tecnologia de rastreamento de inventário: Implementar tecnologia para monitoramento em tempo real e reduzir desperdício ao otimizar a validade dos produtos. Hoje há diversas ferramentas como etiquetas inteligentes que permitem rastrear produtos desde a origem e dessa forma identificar as cadeias produtivas sustentáveis.
- Políticas de sustentabilidade: Integrar práticas sustentáveis na utilização da energia, nas operações de suprimento e no uso de embalagens ecológicas, por exemplo.
5. Evolução tecnológica
Em um mundo que já está normalizando a integração de tecnologia em todos os aspectos da vida e, mais ainda, o comércio está se utilizando cada vez mais de soluções avançadas de inteligência artificial, a incapacidade de acompanhar essas inovações pode criar uma séria desvantagem competitiva.
Soluções práticas
- Adaptação a novas tecnologias: Comprometer-se com a revisão regular e a implementação de novas tecnologias como blockchain para autenticação e rastreamento seguro da cadeia de suprimento.
Investimento em IoT: Implementar dispositivos baseados em Internet das Coisas para melhor monitorar e gerenciar operações.

Aspectos ligados à indústria e seus distribuidores
Esses mesmos cinco fatores impactam diretamente o desempenho do varejo alimentar também sob o ponto de vista dos fornecedores, isto é, das indústrias e dos distribuidores. Dessa forma, é importante destacar como eles podem otimizar os processos da cadeia e auxiliar o varejo a ser mais eficiente.
1. Previsibilidade da demanda
A falta de visibilidade e acesso a informações precisas entre fornecedores e varejistas pode conduzir a desajustes nas encomendas, levando a excesso ou falta de estoque. Além disso, no caso da indústria, a capacidade de ajustar rapidamente a produção às variações de demanda é um importante diferencial na entrega eficaz de produtos, sempre que houver oscilações em decorrência de fatores sazonais ou tendências de mercado.
Otimização e soluções
- Comunicação em tempo real: Adotar sistemas de troca de informações baseados em nuvem para garantir que todos os membros da cadeia de suprimentos tenham acesso transparente e rápido aos dados de inventário e demanda. Integrar sistemas ERP (Enterprise Resource Planning) para sincronizar melhor os pedidos, vendas e logística, garantindo respostas rápidas às mudanças.
- Produção flexível: Investir em equipamentos que permitam mudanças rápidas na produção é fundamental para honrar os prazos mesmo em picos inesperados de demanda. Dessa forma, é possível ajustar as operações conforme necessário para atender às necessidades do varejo.
2. Eficiência logística
Para indústrias e distribuidores, a coordenação logística eficaz é essencial para manter um fluxo consistente e eficiente de produtos. Esse alinhamento logístico impacta diretamente o desempenho do varejo alimentar, já que envolve tanto o transporte físico quanto a gestão dos armazéns e demanda uma operação sincronizada para minimizar atrasos e gargalos.
Otimização e soluções
- Tecnologia de roteirização inteligente: Utilizar softwares avançados de roteirização para otimizar o transporte. Ferramentas como sistemas de informação geográfica (SIG) podem otimizar rotas de entrega, economizando tempo e custo.
- Armazéns automatizados: Implementar automação para gerenciar picking, packing e envio de produtos, permitindo que a indústria processe e distribua mercadorias com mais rapidez e precisão.
3. Relacionamento com o cliente
A questão do relacionamento entre indústria, distribuidores e clientes varejistas passa inevitavelmente pela visibilidade do que ocorre ao longo da cadeia e, em especial, no varejo, que por sua interação imediata com o consumidor é o verdadeiro termômetro do mercado. Da mesma forma, o varejo precisa estar informado das estratégias e promoções desenvolvidas por seus fornecedores. Todas essas informações costumam ser disseminadas por meio da força de vendas, o que destaca a importância desses profissionais para o bom relacionamento com o varejo e para o fortalecimento do desempenho do varejo alimentar.
Percebe-se, assim, que os dados que traduzem os movimentos da cadeia de abastecimento precisam fluir com rapidez e precisão, o que nem sempre acontece. Isso é preocupante, pois tanto as ações voltadas a corrigir problemas operacionais quanto o próprio relacionamento entre os elos da cadeia impactam diretamente o desempenho do varejo alimentar e sua capacidade de atender às demandas do mercado com agilidade.
Otimização e soluções
- Equipe de vendas bem treinada: Além de um conhecimento detalhado dos produtos e do mercado em que atua, o time deve ser capaz de entender as necessidades específicas de cada cliente e propor soluções personalizadas e eficientes. Adicionalmente, é preciso desenvolver habilidades de comunicação e relacionamento, o que envolve empatia, escuta ativa e capacidade de negociação. Ele deve ser capaz de entender os desafios do cliente e oferecer sugestões.
- Amplo uso de ferramentas digitais: Todo o sistema de comunicação dentro das empresas e das empresas com o mercado é hoje profundamente digitalizado. O cliente varejista não pode ficar fora dessa rede, por menor que seja o estabelecimento. Isso significa que distribuidores e indústria devem fazer um esforço conjunto para estimular a adoção de ferramentas tecnológicas pelo varejo. Todos os parceiros (e os times de vendas, em especial) precisam estar familiarizados com ferramentas e plataformas digitais.
4. Sustentabilidade
Para indústrias e distribuidores, a sustentabilidade vai além das práticas socioambientais seguidas de forma ampla pelas demais empresas. Como fornecedores, seu papel inclui manter níveis elevados de controle de qualidade para garantir que os produtos atendam a normas de segurança e qualidade ao longo do transporte até o varejista.
Otimização e soluções
- Redução do impacto ambiental: Implementar práticas sustentáveis na produção e transporte, tais como o uso de biocombustíveis ou outras formas de energia renovável, para reduzir a pegada de carbono.
- Transporte de produtos sensíveis: Utilizar sensores IoT durante o transporte para monitorar a temperatura e umidade dos produtos alimentares sensíveis, garantindo sua integridade ao chegar ao destino.
- Programas de certificação de qualidade: Implementar certificações de qualidade e programas de auditoria regular para assegurar que todos os produtos entregues cumpram padrões rigorosos. Desenvolver parcerias com fornecedores que compartilhem valores de sustentabilidade. Usar ferramentas que medem e ajudam a reduzir a emissão de carbono em todas as etapas da cadeia de suprimentos, desde a produção até a entrega final.
5. Evolução tecnológica
Normalmente, a indústria é quem, dentro da cadeia de suprimentos, adota mais precocemente a maioria das inovações tecnológicas. Isso ocorre devido a fatores como cultura, maior capacidade de investimento e mesmo a necessidade de dar rápida resposta aos movimentos da concorrência. Por isso, como já visto acima, é esperado que caiba a ela induzir e estimular a adoção das soluções tecnológicas em seus parceiros de negócios, sejam distribuidores ou varejistas. Nas suas próprias operações, contudo, permanece a necessidade de estar sempre um passo adiante em questões de tecnologia para garantir competitividade e relevância no mercado.
Otimização e soluções
- Inteligência artificial avançada: Aplicação de IA para prever de forma proativa problemas em áreas como produção, logística e estoque e propor soluções em tempo real, facilitando um fluxo contínuo da cadeia de suprimento.
- Blockchain: Implementação total de blockchain para melhorar a rastreabilidade dos produtos do campo à mesa, aumentando a confiança do consumidor quanto à origem de seus alimentos. Essa foi uma das soluções propostas durante a última edição da NRF, principal feira do varejo mundial.
Conclusão
Enfrentar os desafios do abastecimento do varejo alimentar requer uma combinação de práticas colaborativas, adoção de tecnologia inovadora e uma abordagem proativa para atender às necessidades sempre mutáveis dos consumidores em um mercado altamente competitivo. Nesse contexto, investir de forma estratégica nesses pilares é essencial para fortalecer o desempenho do varejo alimentar.
Assim, tanto varejistas quanto seus fornecedores precisam investir profundamente em tecnologia e práticas de gestão de dados para melhorar aspectos como armazenamento, previsibilidade e execuções logísticas. Isso não só é essencial para acompanhar o ritmo das demandas dos consumidores e da evolução da concorrência, como garante operações alinhadas com práticas sustentáveis e focadas no consumidor.
Desenvolvimento contínuo, foco em sustentabilidade e adaptabilidade são pilares que contribuem para integrar as empresas nos novos tempos e torná-las líderes em seus mercados.
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